Para que servem as pílulas de conhecimentos para pessoas que empreendem nas periferias?

As capacitações para empresárias e empresários nas periferias brasileiras são, muitas vezes, marcadas por uma série de promessas de soluções mecanicistas para as dificuldades enfrentadas por essas pessoas. Muitas capacitações, por vezes chamadas de pílulas de conhecimentos, ignoram o significado de se empreender nas periferias desconsiderando os aspectos e dimensões do patrimônio territorial, tornando-se ineficazes.

A falta de abordagens sistêmicas e holísticas nestas capacitações limita significativamente o desenvolvimento pessoal e profissional das pessoas que empreendem  nos territórios periféricos.

Capacitações Superficiais e Suas Limitações

Capacitações estruturadas para serem aplicadas em curto período de tempo, definidas como “pílulas”, que abordam criatividade, inovação, competências pessoais e profissionais, vendas, precificação, gestão financeira, e outras temáticas voltadas para empreendedores, são apresentadas, em larga medida, de maneira superficial,  sem estímulos para reflexões. As propostas “práticas” e “milagrosas” sugerem que basta seguir determinados passos para alcançar o sucesso, desconsiderando as complexas realidades enfrentadas pelas empresárias e empresários periféricos. Abordagens mecanicistas de aprendizagem, sustentadas na ideia de que o aprendizado deve ser rápido e massificado, proporciona profundas frustrações nas pessoas aprendentes, além de não contribuir para a evolução sustentável dos negócios.

Gestão Financeira: Uma Visão Restrita

Capacitações em gestão financeira muitas vezes ignora a relação entre finanças pessoais e empresariais. A gestão do fluxo de caixa é apresentada como solução mágica para a sustentabilidade financeira dos negócios,  sem abordar a complexidade das finanças das pessoas empreendedoras enquanto dependentes econômicas,  enquadradas em um sistema econômico colonizador.

Criatividade e Inovação: Conceitos Deturpados

A criatividade, um fator essencialmente humano, é frequentemente abordada de maneira simplista. Capacitações  em “pílulas” tratam a criatividade sem as corretas fundamentações, desconsideram a riqueza das experiências, trocas de ideias, sensibilidades, diversidades, gambiarras, batucadas, jeitinhos, saberes das periferias. Estão enquadradas em modelos que desprezam a cultura das regiões periféricas.

Nessas capacitações “pílulas” a inovação é, muitas vezes, confundida com criatividade, sendo apresentada de maneira rasa e desconectada da realidade cultural, social, econômica,  tecnológica, política,  ambiental das pessoas empreendedoras periféricas.

A Necessidade de Capacitações Significativas

Para que as capacitações realmente promovam o desenvolvimento pessoal e profissional das empresárias e empresários periféricos, é necessário que os conteúdos façam sentido ao considerar os aspectos identitários das pessoas e dos territórios. Isso significa que é  fundamental abordar as questões sociais, econômicas, políticas, ambientais, tecnológicas, culturais que afetam as periferias e proporcionar uma compreensão crítica e profunda dessas questões. Capacitações fundamentadas em diversos saberes, e que estimulam o senso crítico, são essenciais para que as pessoas que empreendem nas periferias possam se apropriar dos conhecimentos adquiridos, sendo capazes de os aplicar eficazmente nos negócios.

Conclusão

Ao valorizar a diversidade dos saberes das periferias e proporcionar conhecimentos profundos, significativos, reflexivos, de fato se abandona às falácias das capacitações “pílulas” para se firmar na contribuição real do desenvolvimento pessoal e profissional das pessoas empreendedoras.

Empresárias e empresários dos territórios periféricos merecem receber capacitações que respeitam e valorizam a circularidade dos saberes no processo de desenvolvimento pessoal e profissional, estimulando atuação empreendedora consciente e identitária. Certamente que essas capacitações são desenhadas para períodos de médio e longo prazos, com visão sistêmica e holística.

As pílulas de conhecimentos não servem para as pessoas que empreendem nas periferias.

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